segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Análise de cenário para 2021

 


Resumo: Será um ano de centralização política e econômica, que requererá muita inteligência e força.

 

O que dá para dizer sobre 2021 sem possibilidade de errar? Quais são os pontos de apoio firmes, que nos permitem ancorar na realidade. E como usar isso para tomar decisões?

Vamos vistoriar os dados que temos.

CORRENTE PRINCIPAL

  • Praticamente todos os governos (com exceção talvez dos países Africanos) se endividaram como consequência de pacotes econômicos.
  • Da mesma forma, quem tinha nas mãos os porretes do poder regulatório os manejou com gosto e vontade. Os poderes executivos e legislativos entraram 2021 estendendo (pela terceira ou quarta vez) a validade de muitas normas emergenciais e temporárias. Nesse clube temos a OMS, as organizações internacionais de aviação, os órgãos de saúde pública, os parlamentos etc.
  • Em relação à liderança intelectual, grande parte dos “think tanks” e universidades púbicas publicaram trabalhos louvando a atuação dos governos e, sobretudo, a tomada de decisões internacionais coordenadas.

Ainda sobre a posição das autoridades intelectuais, é notável que grandes representantes da classe científica e universitária aprovaram, como justas e boas, medidas duríssimas de controle social. Dentre elas a técnica do “tracing” (monitoração forçada de pessoas), o internamento compulsório adotada pela Nova Zelândia e medidas ainda mais autoritárias do que essas, adotadas por países da Ásia.

Após nosso giro rápido, dá para rascunhar que:

1.    Os governos endividados terão que cobrar mais impostos ou obter maior controle sobre a economia, como sempre acontece após grandes estímulos financeiros;

2.    Os órgãos regulatórios, estatais, paraestatais ou multinacionais, estão enfeitiçados por medidas que restringem liberdades e não dão sinais de que vão parar;

3.    A academia e a intelectualidade pública defendem as medidas de restrição, e invejam os países que restringiram mais do que o Ocidente.

A primeira conclusão, até aqui, é que há uma forte tendência à centralização política e econômica. Essa tendência incentiva os governos a restringirem liberdades e aumentarem impostos.

CONTRACORRENTE

Todavia, e felizmente, o cenário não se exaure aqui. Também podemos levar em conta indícios de uma certa resistência à tendência central. Essa resistência, embora bastante mais fraca, também traz consequências.

Nessa contratendência podemos incluir:

  • A fuga para ativos menos sujeitos ao controle governamental, notadamente ouro e bitcoin (aqui há um detalhe interessante: aparentemente, a incerteza quanto à extensão dos poderes do governo reduziu a busca por imóveis e favoreceu o bitcoin);
  • Alguns setores econômicos e alguns países (ou estados dentro de países) se rebelando contra a aplicação de normas restritivas globais;
  • O enfraquecimento de alguns blocos geopolíticos (ex: certo distanciamento entre Brasil e Argentina, um quase rompimento entre Índia e China)

A segunda conclusão, portanto, é que há uma tendência de descentralização, ainda que fraca e mal organizada.

CONCLUSÕES

Qual conduta a conjunção desses fatores sugere a um brasileiro vivendo o ano de 2021?

Essa é a pergunta fundamental, correto? De que valeria a análise se ela não instruísse o comportamento.

Resumindo a pergunta: o que fazer num cenário de centralização do poder político conjugado com restrições econômicas, no qual há uma pequena contratendência pró-flexibilização?

Para resumir o post eu não vou me alongar na demonstração. Vou partir direto para as respostas que encontrei.

1)     Estudar muito para ampliar a vantagem situacional

Momentos em que há dilemas éticos, regulatórios e políticos, justamente como os de agora, levam à paralisia.

Mas uma pessoa que faça a análise correta das probabilidades, dos riscos e da motivação dos agentes pode se posicionar numa “tocaia regulatória”. Ou seja, acompanhar as mudanças políticas e legais para atacar as oportunidades assim que elas se concretizarem. O mesmo vale para tendências estatísticas.

Há muitas situações prováveis aguardando para acontecer. Vêm à minha cabeça: consolidação (ou seja, falência em massa e posterior compra) de pequenas escolas; distribuição de vacinas particulares; um mercado latente de software antirrastreamento pessoal.

Estudar muito, com frieza, será o maior diferencial.

2)     A área de “valuation” vai ganhar importância

Há um potencial inflacionário, devido aos estímulos financeiros.

Ao mesmo tempo, ainda há muito dinheiro no mercado, resultado dos mesmos estímulos e do capital que ficou inerte em 2020.

Finalmente, há interesse por ativos seguros e um mercado pronto para ondas de fusões e aquisições.

Tudo isso sugere que a atividade de dar valor justo aos ativos crescerá em importância.

3) Internacionalização forçada

O dólar, no Brasil, tende a continuar alto.

A pressão internacional por padronização de normas é fortíssima.

A conjunção entre o poder executivo e o parlamento se alinhou para atrair investimentos estrangeiros (havendo divergência apenas quanto a qual a nacionalidade do estrangeiro que se quer atrair).

Não tem jeito. Em 2021 a atividade de exportação, a abertura para investimentos estrangeiros e a conformação às normas internacionais serão irresistíveis.

Por “conformação às normas internacionais” quero dizer que elas terão que ser levadas em conta. Idealmente, isso não implicará submissão total. Mas, na nossa posição, também não podemos almejar liberdade total.

A adaptação inteligente a este cenário permitirá a um profissional, ou a uma empresa, catapultar seu crescimento na rabeira das multinacionais (principais beneficiárias dos processos de centralização econômica).

Seguindo essas três conclusões, acredito que será possível aproveitar as oportunidades de 2021, minimizando a sensação de desorientação e o gosto amargo da subserviência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários servem para discussões teóricas e para comentários políticos e econômicos. Se você precisa de auxílio em matérias de Direito Internacional, escreva para contato@adler.net.br.