Resumo: Será um ano de
centralização política e econômica, que requererá muita inteligência e força.
O que dá para dizer sobre
2021 sem possibilidade de errar? Quais são os pontos de apoio firmes, que nos
permitem ancorar na realidade. E como usar isso para tomar decisões?
Vamos vistoriar os dados
que temos.
CORRENTE PRINCIPAL
- Praticamente
todos os governos (com exceção talvez dos países Africanos) se endividaram
como consequência de pacotes econômicos.
- Da
mesma forma, quem tinha nas mãos os porretes do poder regulatório os
manejou com gosto e vontade. Os poderes executivos e legislativos entraram
2021 estendendo (pela terceira ou quarta vez) a validade de muitas normas
emergenciais e temporárias. Nesse clube temos a OMS, as organizações
internacionais de aviação, os órgãos de saúde pública, os parlamentos etc.
- Em
relação à liderança intelectual, grande parte dos “think tanks” e
universidades púbicas publicaram trabalhos louvando a atuação dos governos
e, sobretudo, a tomada de decisões internacionais coordenadas.
Ainda sobre a posição das
autoridades intelectuais, é notável que grandes representantes da classe
científica e universitária aprovaram, como justas e boas, medidas duríssimas de
controle social. Dentre elas a técnica do “tracing” (monitoração forçada de
pessoas), o internamento compulsório adotada pela Nova Zelândia e medidas ainda
mais autoritárias do que essas, adotadas por países da Ásia.
Após nosso giro rápido, dá
para rascunhar que:
1. Os governos endividados terão que cobrar mais
impostos ou obter maior controle sobre a economia, como sempre acontece após
grandes estímulos financeiros;
2. Os órgãos regulatórios, estatais, paraestatais ou
multinacionais, estão enfeitiçados por medidas que restringem liberdades e não
dão sinais de que vão parar;
3. A academia e a intelectualidade pública defendem as
medidas de restrição, e invejam os países que restringiram mais do que o
Ocidente.
A primeira conclusão, até
aqui, é que há uma forte tendência à centralização política e econômica. Essa
tendência incentiva os governos a restringirem liberdades e aumentarem
impostos.
CONTRACORRENTE
Todavia, e felizmente, o
cenário não se exaure aqui. Também podemos levar em conta indícios de uma certa
resistência à tendência central. Essa resistência, embora bastante mais fraca,
também traz consequências.
Nessa contratendência
podemos incluir:
- A fuga para
ativos menos sujeitos ao controle governamental, notadamente ouro e
bitcoin (aqui há um detalhe interessante: aparentemente, a incerteza
quanto à extensão dos poderes do governo reduziu a busca por imóveis e
favoreceu o bitcoin);
- Alguns
setores econômicos e alguns países (ou estados dentro de países) se
rebelando contra a aplicação de normas restritivas globais;
- O
enfraquecimento de alguns blocos geopolíticos (ex: certo distanciamento
entre Brasil e Argentina, um quase rompimento entre Índia e China)
A segunda conclusão,
portanto, é que há uma tendência de descentralização, ainda que fraca e mal
organizada.
CONCLUSÕES
Qual conduta a conjunção
desses fatores sugere a um brasileiro vivendo o ano de 2021?
Essa é a pergunta
fundamental, correto? De que valeria a análise se ela não instruísse o
comportamento.
Resumindo a pergunta: o
que fazer num cenário de centralização do poder político conjugado com
restrições econômicas, no qual há uma pequena contratendência
pró-flexibilização?
Para resumir o post eu não
vou me alongar na demonstração. Vou partir direto para as respostas que
encontrei.
1) Estudar
muito para ampliar a vantagem situacional
Momentos em que há dilemas
éticos, regulatórios e políticos, justamente como os de agora, levam à
paralisia.
Mas uma pessoa que faça a
análise correta das probabilidades, dos riscos e da motivação dos agentes pode
se posicionar numa “tocaia regulatória”. Ou seja, acompanhar as mudanças
políticas e legais para atacar as oportunidades assim que elas se
concretizarem. O mesmo vale para tendências estatísticas.
Há muitas situações
prováveis aguardando para acontecer. Vêm à minha cabeça: consolidação (ou seja,
falência em massa e posterior compra) de pequenas escolas; distribuição de
vacinas particulares; um mercado latente de software antirrastreamento pessoal.
Estudar muito, com frieza,
será o maior diferencial.
2) A área
de “valuation” vai ganhar importância
Há um potencial
inflacionário, devido aos estímulos financeiros.
Ao mesmo tempo, ainda há
muito dinheiro no mercado, resultado dos mesmos estímulos e do capital que
ficou inerte em 2020.
Finalmente, há interesse
por ativos seguros e um mercado pronto para ondas de fusões e aquisições.
Tudo isso sugere que a
atividade de dar valor justo aos ativos crescerá em importância.
3) Internacionalização forçada
O dólar, no Brasil, tende
a continuar alto.
A pressão internacional
por padronização de normas é fortíssima.
A conjunção entre o poder
executivo e o parlamento se alinhou para atrair investimentos estrangeiros
(havendo divergência apenas quanto a qual a nacionalidade do estrangeiro que se
quer atrair).
Não tem jeito. Em 2021 a
atividade de exportação, a abertura para investimentos estrangeiros e a
conformação às normas internacionais serão irresistíveis.
Por “conformação às normas
internacionais” quero dizer que elas terão que ser levadas em conta.
Idealmente, isso não implicará submissão total. Mas, na nossa posição, também
não podemos almejar liberdade total.
A adaptação inteligente a
este cenário permitirá a um profissional, ou a uma empresa, catapultar seu
crescimento na rabeira das multinacionais (principais beneficiárias dos
processos de centralização econômica).
Seguindo essas três
conclusões, acredito que será possível aproveitar as oportunidades de 2021,
minimizando a sensação de desorientação e o gosto amargo da subserviência.
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