Entrevista
realizada pela Análise
Editorial (www.analise.com)
– editora especializada na produção de anuários estatísticos de
cunho jornalístico – para o a edição de 2011 da revista Análise
Brasil Global. A revista, publicação anual editada em versão
bilíngue (português e inglês) traz análises detalhadas a respeito
dos principais produtos exportados pelo país, as empresas mais
ativas no comércio internacional, os maiores parceiros comerciais e
os estados brasileiros que mais exportam. Lançado desde 2005, já se
consolidou como uma referência para aqueles que buscam entender como
o Brasil se insere no comércio global, quais suas principais
aptidões e em que áreas é preciso investir para melhorar.
1)
As reformas podem ser consideradas uma questão estrutural para a
internacionalização das empresas brasileiras? Por quê?
Não
acredito que as reformas fiscais, trabalhistas e tributárias estejam
sendo elaboradas com o objetivo de auxiliar a internacionalização
de empresas brasileiras. Melhor dizendo, as reformas podem até
auxiliar a recepção de investimentos estrangeiros, mas não
ajudarão na exportação de capitais brasileiros, pois não
flexibilizam o regime cambial, não simplificam nossas regras de
tributação internacional e tampouco facilitam o livre trânsito de
mão de obra.
2)
Como o(a) senhor(a) vê as últimas discussões nessa área? Elas
estão sendo efetivamente levadas em conta como estratégia de
internacionalização do país ou ainda não existe essa preocupação?
A
meu ver, as discussões são dirigidas principalmente à
reestruturação da economia interna, que está sufocada com a
quantidade irracional de impostos, procedimentos burocráticos para
administração dos débitos trabalhistas e tributários e com as
altas taxa de juros. Ou seja, as empresas brasileiras estão
preocupadas em sobreviver e manter a competitividade no mercado
interno, pois estão perdendo clientes para empresas estrangeiras que
conseguem competir aqui até com certa tranquilidade.
3)
O que pode ser feito para efetivar essa relação entre as reformas e
a internacionalização do Brasil?
Várias
coisas. A primeira delas é conceber as reformas não como um alívio
temporário, mas como o primeiro passo de um programa contínuo de
elevação de eficiência da economia brasileira. Ao adotar essa
postura, o governo e os empresários passarão de uma posição
defensiva, protecionista de nosso mercado de 200 milhões de pessoas,
para uma postura arrojada, que visa a conquistar o mercado mundial,
composto por quase 7 bilhões de pessoas.
Dou
um exemplo bem nítido do tipo de clareza de objetivos que o Brasil
precisa ter.
Recentemente
fui informado que a filial Canadense de uma grande empresa brasileira
tem apenas 1 contador e uma pequena equipe para gerenciar uma folha
de pagamento de dez mil empregados. E que, além disso, essa empresa
até hoje não teve problemas trabalhistas no Canadá. Zero processos
trabalhistas, com dez mil funcionários. É algo simplesmente
inacreditável na atual realidade brasileira.
A
minha pergunta é: como isso é possível? E a resposta que dou é:
através da simplificação dos procedimentos e de uma visão mais
séria da justiça do trabalho. Em relação à simplificação, uma
simplificação verdadeira. Imagine se qualquer empresa no Brasil
pudesse fazer o recolhimento de todas as verbas trabalhistas de um
funcionário através de um único depósito bancário, sem
necessidade de recolher várias guias com códigos diferente. Que
economia de tempo isso poderia gerar? Em quanto à seriedade da
justiça, cito o caráter educativo que as decisões judiciais
precisam ter. Por que permitir que algumas empresas tenham,
anualmente, 1.000 derrotas na justiça do trabalho? Não seria mais
útil para sistema permitir a aplicação de multas educativas para
os grandes litigantes, de modo a desestimulá-lo a descumprir as
regras?
No
âmbito da reforma tributária e fiscal, eu ressalto o problema do
controle de capitais estrangeiros. Embora esses controles contribuam
muito para a estabilidade do nosso sistema bancário, eles têm o
efeito negativo de empurrar o gerenciamento financeiro das empresas
internacionalizadas para outros países, onde o depósito e saque de
remessas internacionais pode ser feito de maneira tão simples quanto
o modo como se faz um “doc” entre contas correntes no Brasil. O
Brasil tem automação e integração bancária suficientes para
permitir transações internacionais rápidas, mas a burocracia e os
controles do Banco Central, adicionados à tributação do IOF, que
incide em todas as operações, afastam as empresas.
Outra
medida importante seria simplificar a tributação sobre importação
de serviços e bens imateriais relacionados à tecnologia. Hoje o
Brasil tem sistemas que se sobrepõem. Quem importa serviços
especializados e software tem que pagar Imposto de Renda Retido da
Fonte, Imposto sobre Serviços, ocasionalmente CIDE, às vezes até
ICMS. As decisões judiciais ainda não pacificaram o tema e a
Receita Federal não parece muito disposta a abrir mão dessas fontes
de recurso. E isso é muito triste, porque demonstra que nossa
economia ainda não está preparada para competir na área de
softwares e serviços de tecnologia.
Ou
seja, o objetivo das reformas tem que ser a libertação da economia
brasileira das amarras que a impedem de competir de igual para igual
com os outros países do mundo, e não simplesmente reduzir
marginalmente a carga tributária ou gerar uma pequena simplificação
dos procedimentos burocráticos. É preciso ir muito além. *
Análise
Editorial (www.analise.com)
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