Este post é uma opinião pessoal e não reflete, necessariamente, a posição da OAB/MG.
Eu avisei, há pouco tempo, que o governo está se coçando de sanha para prejudicar a OAB.
Afinal, advogados criticam. Incomodam. Recorrem. Contestam. Seria um alívio se livrar deles (ah, e se pudéssemos também acabar com os jornalistas... que lindo seria governar.)
Veio a nova lei de lavagem de dinheiro outro dia, querendo condenar advogados e freiras.
Seguindo o coreto, vem um projeto de lei aí querendo isentar estagiários e advogados recém-formados do dever de pagar contribuições para a OAB. Ou seja: uma bolsa advocacia, graciosamente fornecida pelo governo para agradar um substancial curral eleitoral de estudantes de direito e de advogados recém-formados (deve dar para eleger um vereador, no mínimo).
Vou listar as razões pelas quais esse projeto não deve ser aprovado:
1) Acaba com a previdência dos advogados
Vocês sabiam que metade das contribuições vai para um fundo de previdência de classe, chamado Caixa de Assistência? E que este fundo visa a prover assistência em momentos de necessidade? O que vamos fazer quando o número de advogados aumentar, mas as contribuições para a Caixa de Assistência minguarem?
2) Acaba com a independência dos advogados
Continuando o raciocínio anterior, seria possível que o governo desejasse ver os advogados implorando por verbas para salvar as Caixas de Assistência? Seria possível que o governo julgue que, ao ver as regionais da OAB implorando por verbas, ele pode pedir concessões em troca desse dinheiro?
3) Passa a mensagem errada
Eu acredito no livre mercado. Se os advogados não conseguem se manter, que mudem de profissão. Simples assim.
Poderia eu ser mais direto e ofensivo? Talvez se eu dissesse:
Que não tem condições de pagar a anuidade não deve ser advogado.
Ainda não está ofensivo o bastante. Vou melhorar:
Que não tem condições de pagar a anuidade não deve ser advogado.
Xô. Tome seu rumo e não volte.
4) É uma forma indireta de tributação
E por quê?
Bom, se os advogados jovens não pagam anuidades, isso não faz as contas magicamente pararem de chegar. Eu, advogado mais velho, terei que pagar mais para sustentá-los
Se eu não conseguir cobrir a conta, então a OAB vai te que buscar recursos com o governo. Ou seja, os impostos que todo mundo paga, inclusive os mais pobres, vão servir para sustentar os advogados recém-formados.
O dinheiro que iria para as escolas e para o asfalto vai ser usado para subsidiar advogados. Isso não é justo. De fato, é uma loucura.
Por que não fazer o mesmo com o Conselho Regional de Medicina? Por que não direcionar 0,2% do ICMS dos estados para sustentar todos os conselhos profissionais?
5) É inconstitucional e, de fato, acaba com a OAB
A única relação que o governo deve manter com a OAB é uma distância respeitosa. Mais nada. Veja lá na constituição. A OAB deveria ser independente.
Se o governo pode ter gerência sobre a OAB a ponto de definir quem deve pagar anuidades, logo ele também quererá definir quem pode ser advogado. Em seguida, estabelecer cotas raciais para o exame da OAB, indicar presidentes e conselheiros.
Ora, e o que o impediria? Quem controla o dinheiro controla o poder.
Digamos que o governo diga: se você, OAB, deixar eu indicar os conselheiros, então vou permitir que você cobre 20% mais caro no ano que vem.
Seria o fim da OAB.
Sendo o fim da OAB, seria o fim dos advogados. E, logo, o fim da justiça. Todos seríamos brindados com o excelente serviço da defensoria pública (noutro dia explicarei porque a defensoria pública nem deveria existir, para começar).
Para evitar tudo isso, basta fazer algo simples: NADA. Não queremos nada do governo. Não queremos isenções, nem bolsas, nem favores. Nada.
Governo, fique longe da OAB.
Advogados que apoiam esse projeto de lei: fiquem longe da OAB mais ainda.
Se vocês não temem comprometer sua independência, certamente não temerão perder o restante de suas prerrogativas profissionais. Eu não preciso de colegas assim. O que me assegurará que vocês irão me defender, se não têm coragem nem de defender a si mesmos?
Um Homem disse a um Lobo:
- Se tu não fosses tão arrogante e prepotente,
ganharias a vida honestamente
ganharias a vida honestamente
e terias a minha proteção.
- Prefiro a liberdade a ter patrão,
o Lobo retrucou, de resto
se eu fosse bom e me tornasse honesto
tu me tratarias como a um cão.
Em tempo: sou delegado de prerrogativas da OAB/MG. Trabalho de graça para defender as prerrogativas dos advogados, e vejo abusos por parte do governo todos os dias. Esse projeto de lei é só o ataque mais recente.
Este post é uma opinião pessoal e não reflete, necessariamente, a posição da OAB/MG.
Por fim: existem razões econômicas que ditariam até a extinção da própria OAB. Mas eu julgo que, num momento em que o governo não respeita nem as prerrogativas mais básicas dos advogados, o papel da OAB ainda é muito necessário.
Por fim: existem razões econômicas que ditariam até a extinção da própria OAB. Mas eu julgo que, num momento em que o governo não respeita nem as prerrogativas mais básicas dos advogados, o papel da OAB ainda é muito necessário.