No dia 18 de junho, o governo de
Minas Gerais lançou o movimento “Justiça ainda que tardia”, que defende a
campanha “Minério com mais justiça”, cuja bandeira
principal é o aumento das alíquotas de royalties pagos por minério. No Brasil,
apesar de explorados por empresas privadas, os recursos minerais no subsolo
pertencem ao Estado Brasileiro. O sistema de concessões de lavra de mineração
tem como contraprestação o pagamento de royalties via CFEM (Compensação
Financeira pela Exploração de Recursos Minerais).
A CFEM foi estabelecida na
Constituição de 1888 como contraprestação pela exploração de recursos minerais
em território brasileiro. Os recursos angariados por essa taxa são distribuídos
à União (12%), aos Estados produtores (23%) e aos municípios em que a
exploração é conduzida (65%). A alíquota da CFEM varia de 0,2 à 3%, conforme a
substância explorada.
O movimento capitulado pelo governado
Antônio Anastasia alega que a diferença entre os royalties pagos pela
exploração de petróleo e pela exploração mineral é injusta e prejudica estados
produtores, como Minas Gerais e Pará. De fato, os royalties pela atividade
mineradora são significativamente inferiores quando comparados aos do petróleo:
atualmente, a alíquota dos royalties pela exploração de produtos de origem no
petróleo varia entre 5 e 10% da produção.
Além disso, o movimento encontra
harmonia no cenário global. Apenas em 2011, os royalties de extração de minério
aumentaram na Austrália, Chile, Peru, África do Sul, Gana, Tanzânia e Burquina
Faso. Além disso, países como Índia e Rússia introduziram novos impostos sobre
a exportação de minério.
A proposta do movimento mineiro é que
a média da alíquota da CFEM seja 4% do faturamento
bruto das mineradoras. Isso implicaria uma reestruturação da base de
cálculo para simplificar e facilitar a apuração dos valores devidos. Essa
mudança da base de cálculo da CFEM talvez impacte mais na arrecadação do fisco
que o aumento (razoável, diga-se de passagem) da alíquota da contribuição.
Atualmente, a CFEM é calculada sobre
o faturamento líquido das vendas, entendido como o valor da venda do produto
mineral, deduzindo-se os tributos (ICMS, PIS, COFINS) que incidem na
comercialização, além das despesas com transporte e seguro da mercadoria. A
mudança da base de cálculo significa que as mineradoras teriam que pagar a
porcentagem sobre o valor total das vendas, o que aumentaria bastante o ônus da
exploração.
Por exemplo, considerando que as
empresas trabalhem com uma margem de lucro na casa dos 30%, para cada R$
1.000,00 de produtos vendidos, a arrecadação passaria de R$ 6,00 para R$ 40,00,
um aumento de aprox. 665% nas rendas geradas pela contribuição.
O principal argumento levantado
contra o aumento dos royalties e a nova base de cálculo é a perda de
competitividade do minério brasileiro no mercado internacional. Considerando a
baixa no mercado de commodities causada pela crise do euro e diminuição do
ritmo de crescimento de alguns parceiros comerciais brasileiros, talvez essa
não seja a melhor oportunidade para esse aumento.
No entanto, essa batalha dos
royalties promete demorar, pois ainda que a campanha deflagrada esse ano tenha
apoio de vários setores da economia, a influência do lobby das mineradoras
ainda é suficiente para diminuir os efeitos do movimento em Brasília. E, até
lá, as projeções financeiras das mineradoras estarão, no mínimo, instáveis.
Minha opinião: isso é um absurdo. O governo quer falir o único setor
da economia que ainda é competitivo.
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