Há alguns dias assisti a uma palestra proferida pelo Embaixador Roberto Abdenur, que serviu na embaixada do Brasil em Pequim. A Palestra foi organizada pela Câmara Americana de Comércio de Belo Horizonte.
Ao fim palestra, comentei que, após estudar os tratados internacionais entre Brasil e China, percebi que houve pouco avanço na área de comércio internacional (como, aliás, já havia concluído no meu artigo sobre Contratos entre os Países do Bric). Perguntei a ele se isso demonstrava a falta de interesse da China em aprofundar a cooperação comercial entre os países, e se os objetivos chineses seriam unicamente oportunistas, como no caso da compra de minério de ferro.
A resposta foi muito esclarecedora. Em linhas gerais:
Segundo o Embaixador, as relações China Brasil existem há muito tempo, mas sempre no nível governamental, através de acordos de cooperação, etc. É preciso verificar que a ascensão da China é muito recente, e que ela está exposta à influências fortíssimas vindas de todo o mundo, sobretudo dos países mais pujantes economicamente. Assim, é preciso reconhecer que os empresários chineses ainda conhecem muito pouco do nosso país, da mesma forma que são poucos os brasileiros que conhecem a China em profundidade. Portanto, para levar as relações sino-brasileiras a um patamar mais elevado, cabe ao Brasil despertar a atenção da China para as vantagens dessa cooperação. Ou seja, para lidar com a China de igual para igual é preciso que o Brasil busque ser relevante para essa relação, sob pena de ser deixado à margem.
A palestra trouxe outras reflexões de igual valor, das quais gostaria de destacar:
-A passagem para o século XXI foi marcada por dois fatos: Os terríveis ataques às torres gêmeas, que modificaram o panorama político, e a entrada da China na OMC, que, ao incluir mais de um bilhão de pessoas nas regras do Comércio Internacional, alterou substancialmente a dinâmica do intercâmbio mundial.
-Henry Kissinger publicou um artigo interessantíssimo, chamado: Evitando uma guerra fria entre EUA e China (link para o artigo, no Washington Post). Esse artigo demonstra a preocupação dos EUA com a China, e pode servir de indicação para o Brasil sobre como encarar o fato inegável que a China representa.
-Existe uma Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação, que já elaborou diversos memorandos entre Brasil e China. Os temas vão do comércio de soja até a cooperação na indústria espacial. Os trabalhos da Comissão merecem atenção, talvez mais do que a pouca atenção que têm recebido do empresariado.
Em minha opinião, o Embaixador Roberto Abdenur retratou com rara sensibilidade a situação simultaneamente precária e promissora das relações entre Brasil e China, expondo-a com seus nuances e contradições. O que você acha?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários servem para discussões teóricas e para comentários políticos e econômicos. Se você precisa de auxílio em matérias de Direito Internacional, escreva para contato@adler.net.br.